Colocamos os sonhos numa gaveta qualquer, escondidos no fundo do nosso coração ou naquele lugar secreto onde guardamos as memórias em surdina, não as outras que nos podem acorrer de livre vontade.
Umas vezes amarfanhados, outras vezes direitinhos e dobrados ao meio, a verdade é que , por cada sonho que a vida ou os outro ou nós mesmos nos roubamos, a gaveta vai enchendo e enchendo cada vez mais.
É assim a vida. Como também acontece, um dia e de repente, a gaveta ou caixa de papelão, rebentar de tão cheia que está, de tão pesada que nos verga os dias e damos por nós num pranto desfeito, se tivermos sorte, ou num silêncio de morte, que cai sobre a nossa existência para não mais se levantar.
E o que responder aos outros quando nos interrogam o que se passa? Não há nada para dizer. Nada.
Simplesmente esgotámos a reserva que nos tinha sido concebida, por alguma força desconhecida, para enfrentar a realidade. E ficamos secos, sem chama, sem alento e cumprimos os dias e nada mais. Até que certa manhã, por exemplo, a chuva cai de repente e as cores brilham de forma luxuriante, um dos nossos filhos abraça-nos sem razão alguma, ou encontramos por acaso alguém que conhecemos e que padece de males maiores.
Então, olhamo-nos de esguelha no espelho com vergonha das nossas fraquezas, limpamos a gaveta dos sonhos não concretizados e começamos do zero. Uma vez mais.....
L.C-Branco